sábado, 23 de julho de 2011

ALERTA, VEM AÍ TSU(NAMI)!

Por Ludovico Agrícola (*)

MISSÃO INGRATA, a que espera Pedro e Paulo, o vosso dueto da corda! Sem ofensa para ninguém (apressou-se a acrescentar BMW, que não domina completamente esta língua tão traiçoeira). É que, executar de cabo a rabo, e de supetão, as 291 medidas do memorando da troika, só pondo o país de borco. É verdade que ele já mal se aguenta em pé, mas, ainda assim, digo-lhe que é missão impossível. Olhe a Grécia!

Talvez (respondi). Mas eu não espero que, a meio do caminho, suceda a Pedro Passos Coelho o mesmo que a Durão Barroso em 2004: ser convidado para presidir à Comissão Europeia, depois de a coligação «Força Portugal» (PPD-CDS) ter sido sovada pelo PS nas eleições europeias. Lá ficaria Paulo Portas com Miguel Relvas nos braços, depois de ter aguentado, há sete anos, com o peso do «menino guerreiro»!

Por mais resistência e resiliência que revelem os vossos novos heróis (insistiu BMW), não vai ser nada bonito ver o povo a penar, açoitado por despedimentos mais fáceis, mais desemprego, menos segurança social, subida de preços dos bens essenciais, juros mais altos, aumento do IVA, mais dívidas, mais pobreza, privatizações à la carte, desmantelamento de mais serviços do Estado… E por aí fora. Já viu bem?!

E digo-lhe mais, Ludovico: a redução da TSU (Taxa Social Única), tão afagada por Catroga e outros gestores e empresários, é apenas o símbolo do tsunami ultraliberal que vai arrasar a sociedade portuguesa. Sempre que oiço falar em «coragem para tomar medidas», já sei que são medidas para sacrificar os que menos têm. Regra geral, os que falam dessa «coragem» são os que sabem que nunca serão incomodados.

O dr. Bretton Woods tem muita experiência, mas é homem de pouca fé! Eu, por exemplo, tenho fé no que disse há poucos dias ao DN o pai do futuro PM: «O meu filho vai manter o Serviço Nacional de Saúde o mais lato possível»! Acha que o filho terá lata para desmentir o pai?! Também os professores devem estar felizes e despreocupados, já que o PPD foi, com o PCP e o BE, um dos paladinos dos ‘setôres’ e ‘setôras’ durante as greves e manifestações contra as duas ministras da Educação de Sócrates!

Além disso, caro dr. Bretton Woods, temos neste país uma indústria da caridade alimentar que deve ser das mais eficazes do mundo. Digo «caridade», por respeito pela vedeta mediática que dirige o banco alimentar contra a fome, que declarou não apreciar muito o termo «solidariedade». Ela é católica e acha que a solidariedade tem mais a ver com «o Estado Social», que «é algo que devia existir como garantia mas que devia estar reduzido ao mínimo possível». Menos Estado, mais caridade. Está a ver?!

Confio muito (rematei eu) no triângulo institucional Cavaco-Nobre-Passos, que irá presidir aos destinos da pátria e da república! O sonho de Sá Carneiro (uma maioria, um governo, um presidente) não poderia ter encontrado tradução mais genuína. Acha que uma troika assim poderá alguma vez transformar-se num triângulo das Bermudas? Que venha a outra troika avaliar-nos. Nós cá estaremos. De mão estendida.

«Expresso» de 10/Junho/2011
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(*) Ludovico Agrícola é um pseudónimo de Alfredo Barroso

1 comentário:

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

CARO LUDOVICO

Sendo eu um anti - Sócrates, desesperei pela saída do homem feroz, cordeiro entre os lobos. Estou, no entanto, em pânico com o cumprimento das medidas Troikianas. É que se esperava mais de PPC. Esperava-se um rasgo de alma, uma experiência feita de não experiência, um perceber a realidade da vida Portuguesa, uma alma de estadista, um negar o que é para negar. Como classe média já me transformei quase num indigente económico, daqueles que nunca pediram meças ao estado de partidos, uma espécie de universitário com mais de doze anos de universidade (sem chumbos ou passagens administrativas ao domingo). Resta-me a via do emigrante, sem cheta para o dente escuro, para o veterinário da cadela, sem pingo para o depósito do carro, sem Euro e meio para ir daqui até ali, à espera da nova lei do arrendamento terrorista que me lançará pela trela para fora de casa, para o asfalto onde correm os BMW's e os Mercedes dos criminosos deste lugar mal frequentado. Viva o novo Portugal indigente, de gente descalça mas com BIC's portas adentro. Ah, pudesse eu uma colocação-zinha por mérito ou avaliação independente. Oh, Ludovico ainda há cá disso?